A maioria das pessoas que tem um cãozinho, em algum momento já pensou em adestrá-lo. Os motivos podem ser os mais diversos; como extinguir um comportamento indesejado ou ensinar truques para mostrar aos amigos. Neste texto, abordarei quando se deve contratar um adestrador e quais as linhas mais comuns de adestramento.
Para respondermos a esses questionamentos, precisamos esclarecer alguns pontos. Hoje em dia, muitos cãezinhos ocupam um papel central dentro das famílias, e são considerados verdadeiros membros dela. Há casais que, por exemplo, adotam cães e começam a tratá-los como filhos. É louvável que essas pessoas amem seus pets, mas não podemos esquecer que eles não pertencem à mesma espécie que a nossa, eles são cachorros. Porém, sempre existem pessoas que se esquecem desse pequeno detalhe, e aí começam os problemas.
A humanização de nossos pets e o louco estilo de vida moderno fizeram com que muitos cães começassem a apresentar problemas comportamentais, entre eles: uivos excessivos, destruição da mobília, agressividade etc. É claro que a genética do cachorro e a raça influenciam bastante nesses problemas, mas se algumas medidas não forem seguidas pelos tutores é quase certo que o cãozinho apresentará um ou vários dos problemas citados acima.
Antes de achar que o seu cão é doido por uivar o dia inteiro ou comer todos os sapatos que ele vê pela frente, é fundamental que o tutor verifique se está suprindo as necessidades básicas do cão, como atividade física adequada e diária, atividade social e mental, e uma alimentação de boa qualidade. Caso você esteja atendendo a todos os requisitos e mesmo assim seu cão apresente problemas, está na hora de consultar um adestrador comportamentalista.
Na hora de consultar um adestrador, não se atenha apenas ao preço. Há preços variáveis no mercado, mas nem sempre o mais caro é o melhor. Peça indicações a pessoas conhecidas e que já contrataram este serviço, pesquise quem será o adestrador e qual metodologia ele utilizará, e procure tirar todas as suas dúvidas antes de fechar as aulas de adestramento.
Mas quais são os tipos de adestramento presentes no mercado? Basicamente temos três linhas de adestradores, os que seguem a linha tradicional, os que usam o reforço positivo e, ainda, os que mesclam as duas vertentes.
Os tradicionais normalmente conformam o comportamento do cachorro baseando-se na teoria da dominância. Eles acreditam que como os cães são animais que vivem em bandos, precisam de um líder. Em função disso, esses adestradores utilizam castigos físicos, pois essa seria a maneira de demonstrar a dominância. Na ausência de um líder, o animal tentará dominar outros cães e seres humanos por meio da linguagem corporal, como montar no dono ou com rosnados e mordidas.
Já os positivistas acreditam ser desnecessário o uso do castigo físico e enfatizam que o treinamento deve ser baseado em recompensas. Além disso, acreditam que a teoria da dominação está ultrapassada e baseada em pesquisas muito antigas e mal realizados.
Segundo John Bradshon, em seu livro Cão Senso, “Os primeiros biólogos que estudaram os lobos baseavam a maior parte de suas ideias em pesquisas com grupos em cativeiro, que eram mais fáceis de observar. Algumas dessas alcateias eram montagens aleatórias de indivíduos, enquanto outras eram fragmentos de alcateias, nas quais faltavam um ou ambos os pais, compostas basicamente de quaisquer indivíduos não aparentados, enquanto outras eram fragmentos de alcateias, nas quais faltavam um ou ambos os pais, composta basicamente de quaisquer indivíduos disponíveis para que o zoológico fizesse sua exposição. O que quase todas as essas alcateias tinham em comum era que sua estrutura fora rompida de forma irrevogável pelo cativeiro, de modo que os lobos eram lançados em um estado de confusão e conflito. Além do mais, a não ser que seus captores humanos decidissem separá-los, nenhum deles tinha a oportunidade de partir. Como resultado, as relações que se impunham eram baseadas não na confiança há muita estabelecida, mas na rivalidade e na agressão” (p. 47, 2012).
Defendem ainda que estudos recentes mostraram que as alcateias de lobos, quando formadas por grupos familiares, tem como essência a cooperação e não a dominação. É o que expõem o mesmo autor, John Bradshaw, “Até pouco tempo atrás, porém, pensava-se erroneamente que os grupos de lobos fossem organizações competitivas. Agora, sabe-se que a maioria dos “grupos” de lobos é na verdade, composta de grupos familiares. Tipicamente, um macho solitário se acasalará com uma fêmea solitária – cada um deles ou ambos terão deixado recentemente uma alcateia – e criarão uma ninhada juntos. Em muitas espécies, os jovens vão embora, ou são expulsos, quando têm idade suficiente para se defenderem sozinhos, mas isso não acontece com os lobos. Desde que ninguém passe fome, os filhotes podem ficar com os pais até que cresçam. Uma vez que tenham experiência bastante, participarão em pé de igualdade nas caçadas, e assim surge uma alcateia.” (p.44-45, 2012)
Tendo em vista as divergências entre as duas técnicas de adestramento, é importante que os tutores conheçam um pouco sobre as metodologias para que possam escolher qual é a mais adequada para o seu cãozinho.
É fundamental compreender que, embora a linha tradicional consiga resolver parte dos problemas, em alguns casos o mau comportamento pode até ser agravado, seja pelo incomodo do castigo ou pelo simples medo de recebê-lo. Enquanto que as técnicas positivistas dificilmente provocarão um dano maior ao animal, pois trabalham em cima do acerto do cão, ou seja, não há castigo físico, e por isso os positivistas são mais recomendados em casos, por exemplo, como o de cães medrosos.
Um cãozinho educado será sempre bem recebido, e isso fará com que ele possa estar mais tempo com você e com a sua família. E quem não deseja isso, não é mesmo? Imagine você levando seu amigão para locais que aceitam cães, como restaurantes, casas de amigos e até no local de trabalho? Se o seu cão é sociável, não late excessivamente, não pula em todas as pessoas que enxerga pela frente e não sai fazendo xixi em todos os cantos do ambiente, ele será sempre bem-vindo. Esses são alguns dos motivos que fazem do adestramento uma valiosa ferramenta para a solução dos problemas do animal e para estreitar os laços entre o cão e o tutor.
Fonte: BRADSHAW, B. Cão senso. Rio de janeiro: Record. 2012.
Esse artigo também está presente no Jornal “O Guri” – informativo do KCRGS Edição especial 70 anos, e pode ser visto também no endereço: https://www.facebook.com/jornaloguri