Adoção responsável – Será que estou pronto para ter um animal de estimação?

Resolvi escrever este texto sobre adoção responsável pois trata-se de um tema relevante, tanto para nós, que amamos animais, como para aqueles que pretendem adotar um novo companheiro.

Adotar animais por impulso infelizmente é um hábito comum. E o final dessas histórias, em grande parte dos casos, é triste. Geralmente os animais adotados acabam devolvidos para os abrigos de que foram retirados ou são doados para terceiros, há, ainda, os que não possuem tanta sorte e são abandonados. Por isso, quando alguém me aborda querendo adotar um animalzinho, procuro expor os contras de se ter a responsabilidade por uma vida e somente depois os incontáveis prazeres de se ter um bichinho de estimação ao nosso lado.

Semanas atrás, um amigo veio me visitar e expôs sua vontade de adotar um cãozinho. Disse-me que desde o término de seu último relacionamento, há dois meses, sentia-se muito sozinho e estava pensando em preencher um pouco do vazio adotando um cão de pequeno porte. Assim que terminou de falar, fique muito preocupada, pois sabia do estilo de vida que ele levava, e expus minha opinião.

Normalmente, ele se esquecia até de regar as plantas de seu apartamento, que secavam e morriam. Além disso, costumava passar mais tempo viajando a trabalho do que em casa e, nos finais de semana, saia sem horário para voltar. Ou seja, ter um animalzinho nesse momento de sua vida o atrapalharia muito, a não ser que ele estivesse disposto a mudar a sua rotina.

Segundo o Jornal A Folha de S. Paulo, o Brasil é o segundo do mundo em número de cães e gatos, perdendo apenas para os Estados Unidos. Há pelo menos um animal de estimação para cada duas pessoas, e esse número tende a crescer uma vez que a população de pets cresce mais rapidamente quando comparada a dos humanos.

Uma das razões dessa expansão no número de pets, ainda segundo o jornal, “seria pelo reconhecimento dos benefícios da interação entre animais e seres humanos para a saúde de ambos – motivo de diversos estudos, especialmente nos Estados Unidos. Algumas pesquisas comprovam que a convivência é capaz de ampliar a autoestima das pessoas, reduzir problemas cardíacos e auxiliar a família na diminuição do estresse. Um dos levantamentos constatou que as que têm animais de estimação gastam menos com remédios”.

Devido a tantos benefícios não é de se estranhar que os pets estejam cada vez mais presente nas casas das pessoas, e por isso meu amigo desejava tanto ter um. Porém, após conversarmos, ele desistiu da adoção, mas disse que não descartaria a possibilidade de fazê-la futuramente, quando a sua vida estivesse mais tranquila. Fiquei feliz em ver que ele refletiu sobre a responsabilidade de se ter um bichinho e não fez uma adoção por impulso. Mas como falei anteriormente, ainda há um grande número de pessoas que o fazem.

Ser tutor de um animal não significa simplesmente colocar a comida no pote e limpar as fezes. Ter um animal é saber que ele poderá viver de 10 a 20 anos, dependendo da espécie e raça, e que nesse tempo ele poderá adoecer, desenvolver comportamentos indesejáveis e você será o responsável por resolver esses problemas. Sei que pode parecer muito duro expor os contras de uma adoção, mas é importante que o adotante esteja ciente de tudo isso para que o número de animais abandonados não cresça.

Mas quais procedimentos precisam ser tomados para que uma adoção aconteça de forma segura? Para esclarecer essa dúvida, consultamos a ONG Associação Natureza em Forma, localizada no Centro de São Paulo e que possui 12 anos de existência. Segundo a veterinária responsável, Maria Eugenia Carretero, para que um animalzinho da ONG seja adotado, o candidato precisa ser maior de 21 anos, apresentar documentos como RG, CPF, comprovante de residência; e passar por uma entrevista, e solicitam também uma contribuição de no mínimo R$ 60,00 para a ONG. O intuito da entrevista é traçar o perfil do candidato para saber se ele está apto a ter um animalzinho. Além disso, a ONG informa as necessidades básicas e os cuidados para que o animalzinho tenha uma vida saudável e segura. No caso dos cães, eles falam, por exemplo, da necessidade de passeios diários. Quando o candidato passa na entrevista, que tem duração aproximada de 1 hora, ele assina o contrato de adoção e pode levar o bichinho. A ONG faz um acompanhamento mensal no novo lar até o fim da vida do animal. Ainda segundo a veterinária Maria Eugenia, o fato de o adotante precisar passar por uma longa entrevista e ter que fazer uma contribuição obrigatória diminuiu consideravelmente a adoção por impulso.

Segundo John Bradshaw, autor do livro Cão Senso “A maioria das pessoas acredita que cães de companhia devem ser amigáveis, obedientes, robustamente saudáveis, fáceis de controlar, seguros com crianças, facilmente treináveis em casa e capazes de mostrar afeição por seus donos. Muitos donos também valorizam o contato físico com seu cachorro – uma descoberta que não deve surpreender, pois agora sabemos que acariciar um cão não só reduz os hormônios do estresse como também leva ao surgimento do hormônio do “amor”, a oxitocina. (…) Mas a maior parte dos donos de cachorro não prioriza a personalidade quando escolhe um cão. Por exemplo, muitos valorizam mais a aparência do que o comportamento e consideram  a treinabilidade como relativamente sem importância, mesmo que esperem que os cães sejam obedientes ” (2012, p. 371).

Ou seja, por levar em conta apenas a aparência do animal e por não saber como lidar com desordens comportamentais, muitos cães acabam sendo abandonados. O abandono e a separação de seus donos pode causar sérios problemas psicológicos; a nova rotina do canil ou das ruas, que pode ser altamente estressante para muitos deles, ainda agrava a situação. Por isso, a adaptação do cãozinho ao novo ambiente precisa ser feita com cautela e paciência.

Uma dica importante para que o abandono e a devolução de cães diminuam, seria a de conhecê-lo melhor antes de levá-lo para casa. Se for um cãozinho de ONG, visite algumas vezes o local em que o pretendente está, peça para passear com ele, pergunte sobre seu comportamento às pessoas que convivem com ele. Assim, você conseguirá escolher um cão que se adapte melhor ao seu estilo de vida. De repente, você prefere um cão mais agitado, já que gosta de correr e praticar esportes; então cães mais elétricos são uma ótima opção. Mas se você procura um cãozinho mais calmo, cães mais velhos serão melhores, pois são mais tranquilos e não exigem tanta atividade física. Só adote um filhote se você tiver bastante tempo disponível, pois filhotes necessitam de mais atenção e cuidados que cães adultos.

Gatos são mais independentes, por isso, se você é o tipo de pessoa que se ausenta muito, talvez adotar um gatinho seja uma boa escolha! Além deles, outros bichinhos como roedores, aves e peixes demandam menos tempo de cuidado quando comparado aos cães.

Lembre-se que a adoção de um animalzinho é uma grande responsabilidade e você precisa estar pronto para assumi-la! Adote de forma consciente!

Referências:

MELHORES Amigos dos brasileiros. Folha de São Paulo, 14 de Março de 2015.

BRADSHAW, B. Cão senso. Rio de janeiro: Record. 2012.

Esse artigo também está presente no Jornal “O Guri” e pode ser visto no endereço: https://www.facebook.com/jornaloguri

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