Alimentação natural – você sabe o que é?

Se você nunca ouviu falar sobre alimentação natural (AN), não se assuste, pois embora o assunto venha ganhando destaque nos últimos anos, aqui no Brasil, ainda é comum que tutores desconheçam o tema. Substituir a ração do seu pet por alimentação natural é, na prática, oferecer uma alimentação mais próxima a que o cão naturalmente teria. Ou seja, rica em proteína animal, úmida, variada e pobre em carboidratos.

Segundo a American Association of Feed Control Officials (AAFCO) “alimentos naturais para cães e gatos não podem conter corantes artificiais, conservantes artificiais, flavorizantes, aromatizantes e palatabilizantes artificiais, óleos e gorduras sintéticas e umectantes artificiais. Ainda segundo o autor, a decisão pelos alimentos naturais para pets incluem proprietários que já utilizam alimentos orgânicos e naturais para si próprios, que desejem produtos mais caros e mais elaborados, pressupondo que estes sejam os melhores e finalmente, uma terceira condição; queiram um alimento “seguro” para seus animais” (SAAD; FRANÇA, 2010).

Como pudemos ver, é comum que os tutores interessados por esse tipo de dieta possuam uma preocupação com a sua própria alimentação. Porém, todos que gostam de seus animais de estimação deveriam interessar-se por esse assunto. Segundo Sylvia Angélico, veterinária, nutróloga e uma das responsáveis pelo site Cachorro Verde, há uma relação direta entre o consumo da ração seca e o aparecimento de doenças crônicas – renais, hepáticas, alergias, diabetes, tumores – em animais cada vez mais jovens, pois além da ração seca não possuir umidade adequada, sua fórmula não é variada e os animais acabam consumindo o mesmo alimento durante anos, “o que pode promover estresse metabólico, prejudicando o sistema urinário inferior e desgastando os rins – principalmente em relação aos gatos, que descendem de felinos de deserto. […] Já é comprovado cientificamente em humanos que o consumo massivo de alimentos industrializados aumenta consideravelmente o risco de doenças degenerativas.” (ANGÉLICO, 2013) Se acreditarmos que o mesmo vale para os animais, o alimento industrializado que fornecemos aos nossos pets, provavelmente, também favorece o aparecimento desse tipo de doença.

Segundo Saad e França, em seu artigo Alimentação natural para cães e gatos, “O interesse atual sobre novas alternativas alimentares para cães e gatos, a parte a rações comerciais convencionais, teve inicio devido a um grande recall ocorrido nos Estados Unidos entre março e abril de 2007. Nesta data a empresa canadense Menu Foods, a maior fabricante de rações da América do Norte, anunciou que retiraria do mercado 60 milhões de enlatados para animais. O motivo do Recall foi a morte de 16 animais (oficialmente confirmadas) com falência renal e hepática. Neste período, a FDA (Food and Drug Administration), agência responsável pela regulamentação de alimentos e medicamentos nos EUA, recebeu mais de 14. 000 reclamações sobre animais domésticos com sintomas de perda de apetite, vômitos e apatia, os principais sintomas da intoxicação.

O incidente assumiu grandes proporções a partir da identificação do agente causador, o glúten de trigo importado da China e contaminado com melamina (C3H6N6): composto orgânico, comumente produzido a partir da uréia, utilizado na indústria plástica (resina melamina-formaldeído), além de constituir subproduto de vários pesticidas, inclusive da ciromazin. Fontes de nitrogênio não protéico (NNP), principalmente a uréia, são utilizadas em nutrição de animais ruminantes, que convertem o nitrogênio (N) em proteína, através da atividade bacteriana ruminal. Animais monogástricos não são hábeis em utilizar o NNP, sendo essas fontes incomuns na indústria pet food” (SAAD, FRANÇA, 2010).

A partir desse triste evento, a atenção sobre a composição da ração seca passou a ser amplamente questionada. Afinal, se você consultar o rótulo de qualque ração seca certamente encontrará alguns dos seguintes itens:

  • Alimentos transgênicos (potencialmente prejudiciais à saúde e ao meio ambiente).
  • Fórmula fixa de alimentos de qualidade questionável, como glúten de milho e farinha de subprodutos de carne (ao invés da carne fresca que convenientemente ilustra os anúncios e as embalagens).
  • Alimentos pouco adequados a carnívoros, como uma abundância de derivados de milho, trigo e soja – comida de ruminantes – considerados alergênicos para alguns pets, além de às vezes estarem contaminados por toxinas fúngicas perigosas. Quando submetidos ao violento processamento industrial por calor e pressão empregado por muitos fabricantes, carnes e grãos formam compostos cancerígenos, como aminas hetericíclicas e acrilamidas.
  • Linhas e mais linhas de vitaminas, aminoácidos e minerais sintéticos e isolados, acrescidos à parte, uma vez que o processamento industrial e o longo prazo de validade das rações acarreta grande perda de nutrientes naturais.
  • Aditivos sintéticos como corantes, conservantes (BHT, BHA, etoxiquina, “antioxidantes”, “estabilizantes”, flavorizantes e outros, que podem ou não estar discriminados), muitos dos quais suspeitos de causar câncer, alergias e de interferir na função endócrina e/ou comportamental (ANGÉLICO, 2013).

Desse modo, conhecer a composição da ração, já seria um grande estímulo para deixarmos de fornecer alimentação seca aos nossos peludos. Porém, se essa dieta não for feita de forma adequada, é melhor que o tutor continue com a ração seca. Isso porque, caso a AN seja ministrada de forma errada, você poderá causar diversos problemas de saúde a seu melhor amigo.

Eu com o Carlos e a veterinária e nutróloga Sylvia Angélico (Cachorro Verde)

Eu com o Carlos e a veterinária e nutróloga Sylvia Angélico (Cachorro Verde)

 

Alimentação natural não é dar os restos de comida do almoço, misturar ração com comida e muito menos preparar arroz, frango e cenoura todos os dias. A AN precisa ser oferecida de forma equilibrada, fornecendo ao animalzinho todos os nutriente e vitaminas necessários para uma vida saudável.

Além disso, ainda encontramos veterinários que não recomendam a dieta, mas isso comumente deve-se ao desconhecimento dos benefícios da alimentação ou ao receio de que o tutor ofereça uma dieta desbalanceada. Muitos mitos também atrapalham a escolha por esse tipo de dieta, por exemplo, o fato de alguns tutores acharem que o oferecimento de pedaços de carne a seus pets poderá resultar em dor de barriga ou desnutrição; sem falar nos temidos ossos. Claro que oferecer AN(s) para os peludos exige alguns cuidados, como estudar sobre o assunto e preparar uma dieta balanceada para cada animalzinho. E foi isso que eu fiz antes de começar a oferecer a dieta para os meus cães, estudei sobre o assunto e fiz um curso de alimentação natural.

Minha experiência com a AN ocorreu quando Maria, a minha cachorrinha, começou a recusar ração seca. Somado a isso, ela estava passando por uma crise de gastrite, pois tinha comido o lixo da cozinha. Como a gastrite persistia e ela ainda teve uma reação alérgica a algum alimento que estava no lixo, comecei a procurar alternativas que poderiam melhorar o quadro dela. E foi então que descobri o site Cachorro Verde, que me ajudou a resolver o caso de irritação de estômago. Descobri que a gastrite fazia a Maria vomitar a ração que comia, e os vômitos só cessaram quando ela passou a comer frango cozido e arroz em pequeníssimas quantidades.

Na mesma época, meu cachorro Carlos começou a ter problemas nas patas dianteiras e não conseguia apoiar a direita no chão. Após os exames, tudo indicava que ele tinha uma hérnia de disco na região cervical. O peso do Carlos também era um agravante para a doença, e a mudança para a alimentação natural ajudou na perda de peso.

Para ter mais segurança, fiz o curso de alimentação natural da veterinária e nutróloga Sylvia Angélico. Após o curso, comprei uma balança de precisão, potes para estocar comida e, com a apostila na mão e os dados sobre a quantidade correta de cada nutriente, comecei a oferecer aos meus cães a alimentação natural caseira. A adaptação ocorreu nas primeiras refeições, a Maria, por exemplo, começava a babar só de me ver preparando a comida; o Carlos, que já comia a ração sem problemas, parecia um monstrinho só de ver a balança de precisão na minha mão.

Já faz um ano e cinco meses que iniciamos a alimentação natural caseira. O Carlos emagreceu cinco quilos e mantém o peso. A Maria, por sua vez, nunca mais se recusou a comer, come com gosto e é apaixonada por frutas, que na maior parte das vezes são usadas como petiscos.

Notei que meus cães tiveram uma melhora na qualidade de vida e por isso tento mostrar que é possível dar a esses pequenos peludos de quatro patas que tanto amamos uma vida livre de conservantes e corantes. Por meio de uma alimentação balanceada, os problemas de pele, excesso de peso – uma ração super premium pode concentrar até 4000 calorias por quilo enquanto a alimentação natural tem por volta de 1600 calorias –, ­­otite e leves coceiras podem ser tratados. Os animais que possuem outros problemas de saúde, por exemplo a insuficiência renal, também podem comer AN; mas nesses casos, é necessário o acompanhamento de um veterinário da área. E lembre-se, assumir a alimentação natural é um compromisso sério com o seu cão e precisa ser seguida direitinho. Mas caso continue com a ração, escolha as que são livres de transgênicos, que possuam baixa quantidade de carboidratos e elevados níveis de proteína como a N&D e a Hercosul Biofresh.

Referências:

SAAD, M. de O. B.; FRANÇA, J. Alimentação natural para cães e gatos. R. Bras. Zootec. Vol. 39  supl.spe. Viçosa – MG Julho 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-35982010001300007>. Acesso em: 10 out. 2015.

ANGÉLICO, S. Por que optar por dieta caseira ao invés de ração? Cachorro Verde. 2013. Disponível em: <http://www.cachorroverde.com.br/index.php/por-que-optar-por-dieta-caseira-ao-inves-de-racao/>. Acesso em: 13 out. 2015.

http://www.cachorroverde.com.br/index.php/por-que-optar-por-dieta-caseira-ao-inves-de-racao/

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