Estava chuviscando naquela noite gelada de Julho, e, embora eu tivesse um couro grosso ainda sentia um pouco de frio. Não me lembro como fui parar lá. Havia muitos carros, ônibus e humanos andando apressados de um lado pro outro. Eu tentava acompanhar um ou outro, mas nenhum deles sequer me olhava. Caminhando entre humanos e mais humanos e tantos deles desumanos, entre pontapés e espantos, avistei uma moça de olhos puxados que sorriu para mim. Apenas sorriu! Tentei acompanhá-la, mas ela começou andar mais e mais rápido. Como eu possuo quatro patas ela ficou em desvantagem, e assim andei ao seu lado corajosamente para que ela me tirasse dali. Paramos no ponto de ônibus, ela me olhou e com os olhos brilhando tentou me enxotar, mas não foi como os outros feito aos gritos ou chutes, ela simplesmente dizia para eu ir embora. Já estava tarde e a temperatura caía. Não sei o que ocorreu, mas quando abri os olhos ela estava me chamando. Fui e percorremos o mesmo caminho de forma inversa. Voltamos ao lugar em que a vi pela primeira vez e ela pediu que eu ali ficasse. Sentei e fiquei a observando por alguns instantes, ela saiu e refez o mesmo caminho, e assim fui atrás dela que suplicava para que eu ficasse aonde eu estava. Caminhei até o ponto, ela fez sinal para ônibus que parou, mas ela não entrou. Pegou o celular e enquanto falava eu deitei, aguardei um pouco e voltamos mais uma vez ao mesmo local. Lá aguardamos por mais de uma hora até a chegada de um carro que era conduzido por uma moça bem vestida que tentou me seduzir com um pão duro com a finalidade de que eu entrasse naquele carro. Eu gosto de pão, mas não de pão velho! Entrei em desespero e rosnei enquanto a moça de olhos puxados preocupada me convidava a entrar também. Percebi que as minhas rosnadas não surtiram efeito, quase desmaiei, e quando me acalmei já me encontrava dentro do carro que partiu imediatamente.